Os animais selvagens têm a capacidade de se "automedicarem", será que os nossos pets também apresentam esta aptidão?
Na natureza os animais selvagens têm acesso a uma única farmácia, a própria natureza!
Existe um conceito que busca definir o comportamento que alguns animais possuem de buscar certas plantas para se automedicarem, chama-se zoofarmacognosia. Ao longo da evolução, diversos animais aprenderam a diferenciar quais espécies vegetais poderiam fazer bem ou mal para o seu organismo e perceberam que algumas delas ajudavam a melhorar certos problemas. Os primatas são os mais estudados quando pensamos em automedicação. Existem estudos que relacionam a ingestão intencional de certos tipos de boldo e grandes infestações de vermes, há relatos inclusive de chimpanzés e bonobos que buscavam essas plantas para favorecer a eliminação de parasitas do trato intestinal.
Podemos encontrar inúmeros exemplos desse comportamento na natureza, os animais possuem os seus “truques” para combater problemas gastrointestinais, infestações de piolhos e carrapatos e até mesmo infecções. A zoofarmacognosia é estudada por muitos pesquisadores porque é uma valiosa adaptação das espécies para garantir sua sobrevivência. É um comportamento que está muito ligado ao que pensamos como “instinto animal”.
Será que podemos confiar nesse instinto quando pensamos em nossos cães e gatos?
O instinto do animal doméstico nem sempre está preservado integralmente. Veja bem, o cachorro foi o primeiro animal a ser domesticado pelo ser humano, há indícios arqueológicos de cerca de 500 mil anos atrás. Por um bom tempo os cães caçaram junto ao homem e desenvolveram fortes vínculos e interações sociais, a luta pela sobrevivência dos dois era evidente. Mas e no mundo que vivemos hoje?
Não exigimos mais de nossos cães a agilidade e a estratégia de caça de antigamente ou a constante atenção para ameaças. Os pets recebem alimento frequentemente, possuem uma rotina dentro dos lares, dormem na cama de seus tutores debaixo de um cobertor quentinho… Será que podemos esperar que o instinto deles seja bem apurado?
Por isso devemos tomar cuidado com alguns hábitos aparentemente inofensivos e instintivos dos animais domésticos. Provavelmente todos nós já vimos ou soubemos de um animal que comeu um pouco de grama ou algum mato disponível em seu ambiente e ao questionar sobre o assunto ouviu de alguém “deve estar com indigestão ou dor na barriga, é normal”.
Na maior parte das vezes, o cão e o gato não sabem diferenciar as plantas que vão lhe fazer mal ou bem, eles buscam o que está presente ao seu redor e fazem uma “tentativa” com o que encontrarem. É importante saber o que estará acessível para o pet nessa hora, ele deve ter acesso apenas ao que for seguro para ele. Se houver vasos de plantas tóxicas na casa, o animal pode se intoxicar e ter grandes consequências para sua saúde e sua vida.
Quando temos um animal em casa é essencial reconhecer quais espécies de plantas utilizamos na decoração, não é necessário proibir as tóxicas mas é obrigatório tirá-las do alcance.
Outras questões podem motivar o animal a ingerir plantas além da automedicação. Problemas de comportamento, estresse, tédio, déficits cognitivos em idosos e curiosidade em filhotes pode ser um desses motivos. Busque reconhecer essas variações no comportamento do seu pet, é interessante identificar se essa mudança deve ser considerada uma preocupação ou não. Na dúvida, consulte um médico veterinário.
Escrito por Júlia F. Waldvogel
Originalmente postado no blog Nutrologia de Cães e Gatos
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